Se todo mundo fizer...

Por Ale Esclapes¹

... vai fazer uma grande diferença. Esse é um “slogan” muito recorrente na atualidade. De comercial de televisão a sermão de padres, é um argumento tido hoje como muito convincente. Mas qual seria o apelo psíquico desse tipo de argumento?

Primeiro que uma andorinha faz verão. Esse tipo de argumento infla o ego de quem ouve, elevando-o a ter uma importância em termos de mudança social que não têm. Mas é um apelo narcisista muito eficaz, ainda mais que os pimpolhos da última geração cresceram acreditando que tem uma importância somente justificada dentro de seus lares. Então o apelo nesse vértice parece ser muito útil contra a depressão pós-moderna. Pena que dura pouco, pois uma andorinha NÃO faz verão.

Outro argumento é que um punhado de pessoas faz alguma diferença em termos de organização social. O que se denomina hoje em dia de ONG, salvo raras exceções, me parece um lado um delírio “inconsciente a céu aberto” (tautológico), e de outro, uma bela forma de distribuição de renda. Iniciativas nesse sentido sempre existiram, mas nunca mudaram o mundo.

Voltando a boa e velha psicanálise, as únicas organizações sociais que realmente fizeram alguma diferença foram o Estado, a igreja e o exército (Psicologia de massas e análise do ego). Fora dessa esfera, podemos ter marola, mas jamais uma onda. Talvez poderíamos levar em consideração o efeito que a tecnologia nos últimos 200 anos, mas isso é para outro artigo.

Portanto, se quiser realmente fazer alguma diferença, vote bem, participe da política, cobre os políticos – sem achar que o Estado é o grande pai que vai resolver tudo. Sem participação ativa na política mesmo, em todos os seus níveis, em termos de mudança social, nenhuma iniciativa pessoal vai fazer muita diferença.

¹Psicanalista, professor, escritor e diretor da Escola Paulista de Psicanálise-EPP e do Instituto Melanie Klein-IMK. Autor do Livro "A pobreza do Analista e outros trabalhos 1997-2015" e organizador da Coleção Transformações & Invariâncias.

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