Saia Justa
Por Alê Esclapes1
Recentemente no Programa Saia Justa do canal GNT discutia-se sobre o papel do homem e da mulher modernos (aliás, parece que em todos os programas o tema é o mesmo). Nesse especificamente as mulheres reclamavam que os homens deveriam ajudar mais as mulheres, “dividir” o fardo, etc...
O jornalista Xico Sá se colocou de forma muito simpática, mas no final disse – “Não me venham com essa conta que não pago!”. Isso me faz lembrar da relação entre ética, responsabilidade e significante.
O discurso entre homens e mulheres é antigo, depende da cultura, do período, etc ... Apenas para fazer um recorte vou ficar entre o patriarcado do “american way of life” do século passado e os dias de hoje. Pois bem, homens trabalhavam, mulheres ficavam em casa cuidando dos filhos e tudo certo. Não sei se paralelo a esse período uma revolução pela igualdade feminina estava em marcha até que tomou as ruas, queimaram-se os sutiãs, as mulheres foram ao mercado de trabalho, etc ... E vivemos o pós essa revolução.
É interessante como o discurso do patriarcado foi capturado pelas mulheres – primeiro o direito ao acesso ao falo, sim o falo! O primeiro passo do movimento feminino parece foi dizer que elas tinham tanto acesso a uma experiência fálica no mundo como os homens. O universo fálico, até então mais reservado aos homens foi reivindicado e ainda está sob conquista das mulheres pelas mulheres. E é claro que nessa lógica do desejo a conta veio.
Nunca veio a meu consultório uma mulher reclamar que é dona de casa, que vive no modelo “american way of life” . Quais as maiores queixas? Primeira – como casar (ou melhor, conseguir um marido), ter um filho e cuidar dele se tenho uma carreira a zelar? A equação não fecha. Na tentativa começa a surgir o discurso do “vamos dividir”.
Se você está pensando que estou dizendo que as mulheres deveriam voltar a ser donas de casa, está muito enganado. O que estou dizendo é que falo demais intoxica. Que o mesmo significante que dizia que homens trabalham e mulheres ficam em casa não foi deixado de lado, e, portanto, gera os problemas. Explico – enquanto homens e mulheres e mulheres dividirem a vida entre casa e trabalho, filhos e trabalho, “X” e trabalho, a equação não vai fechar. Homens e mulheres são equânimes, diferentes, com realidades corporais distintas. A igualdade hoje demandada é fálica, e não equânime.
¹Psicanalista, professor, escritor e diretor da Escola Paulista de Psicanálise-EPP e do Instituto Melanie Klein-IMK. Autor do Livro "A pobreza do Analista e outros trabalhos 1997-2015" e organizador da Coleção Transformações & Invariâncias.
Comentrios
- No comments found
Deixe seu comentrio