Por Ale Esclapes¹

Já era ponto pacífico na Idade Moderna que existia uma ligação entre o útero e o cérebro na histeria, e restava explicar como se dava essa ligação, uma vez que o útero não saia do lugar.  É aqui que entram algumas teorias. Todas elas vão pegar carona nos ciências como física e química para dar conta dessa explicação.

Nessa época a última moda em termos de tecnologia era a máquina a vapor. Alguns médicos vão se inspirar nesse modelo para explicar a ligação entre os pontos.

Para Nathanael Highmore (1613 - 1685) seriam “Os Espíritos Animais” que sairiam do cérebro na forma de vapores e desceriam para o útero. Ocorreria por um uso inadequado do mesmo. Ex: tédio, ociosidade, leituras fúteis. A hipocondria também é causada da mesma forma - a origem é o cérebro. É a primeira vez que a origem da doença não é o útero, mas o cérebro.

Para M. Lange (1689) no corpo existem elementos que podem fermentar e criar vapores que são conduzidos pelos nervos pelo corpo. Um deles são os seminais - que se acumularem no homem ou na mulher, fermentam e criam a histeria.Já vimos isso em Galeno, que não explicava exatamente como se daria o fenômeno. Nos homens os vapores não chegam ao cérebro. Porém Willim Harvey (1578 - 1657) descobriu a circulação sanguínea em 1628, logo os vapores não poderiam passar mais por alí. Sobrou os nervos. Logo, por ali os vapores não subiam.  

Outro autor que vai pegar carona no vapores é Pomme (1735 - 1812). Par ele o que causa a histeria é o endurecimento dos nervos por onde os vapores passam. Cria-se a hidroterapia. Porém Robert Whutt (1714 - 1766) declara que não existe possibilidade de vapores passarem pelos nervos Esse eminente médico também não acredita nos espíritos animais. Logo, por ali os vapores também não passavam. A hidroterapia sobreviveu a esse baque, e até no século 20 ainda era utilizada.

Como puderam acompanhar nesse artigo no século XVIII tentou-se diversas explicações de como o útero se ligava ao cérebro e vice-versa. A terapêutica de ambos nunca mudou: no caso das médicos que acreditavam na primazia do cérebro, o que causava a histeria era o tédio - era só ocupar a mente da pessoa que a doença passava. No caso de quem acreditava na primazia do útero, a terapêutica era a mesma da antiguidade.

Outros dois elementos importantes do século XVIII para entendermos a histeria no século XIX foram Mesmer e o Romantismo Alemão. No próximo artigo vamos falar sobre Mesmer e as origens do hipnotismo.

¹Psicanalista, professor, escritor e diretor da Escola Paulista de Psicanálise-EPP e do Instituto Melanie Klein-IMK. Autor do Livro "A pobreza do Analista e outros trabalhos 1997-2015" e organizador da Coleção Transformações & Invariâncias.