Paraíba masculina, mulher macho...

Por Ale Esclapes1

É comum nos consultórios hoje em dia um perfil de mulheres bem sucedidas, com filhos, separadas, que trazem como sofrimento não poderem acompanhar o crescimento dos seus filhos, sentindo-se profundamente culpadas.

Outro perfil é o da mulher com mais de trinta e cinco anos, com o relógio biológico dizendo “ou agora ou nunca” (no que tange a ter ou não um filho) e que não sabem como sair dessa boca de sino.

Em comum temos o resultado de um movimento de emancipação da mulher que se iniciou no século passado, passou por diversos movimentos, e hoje desemboca no século vinte e um.  De uma forma muito generalizada (com os riscos de toda a generalização) o que se conseguiu foi um melhor acesso a mulher ao “falo”, que até então era um pertence mais do homem. Observe-se aqui que não estou falando de masculino e feminino, mas de homens, mulheres e “falo”. O que se buscou foi que homens e mulheres deveriam ter o mesmo direito ao “falo”.

O que não contaram as mulheres é o preço que homens pagaram para ter o dito cujo do “falo”. Será que se imagina que homens nunca sofreram por não verem seus filhos crescerem enquanto trabalhavam o dia todo? Ou por sempre terem que ser “produtivos”, e “o provedor da casa”? Alguns vão dizer que homens estão acostumados e que os “pais” não são tão apegados aos seus filhos. Mentira – o que se desenvolve é uma pele grossa de onipotência para dar conta de tamanho fardo. São estratégias que precisaram ser cuidadosamente formuladas ao longo dos séculos para se manterem em pé.

Alguns anunciam o fim do falo como organizador, quando este nunca esteve tão presente. O que talvez as mulheres não soubessem é que não existe lanche de graça e nem um mundo perfeito. O “falo” pode ser tentador, mas tem o seu preço psíquico, que é alto.

Talvez você esteja se perguntando – mas afinal o que é esse tal de “falo”? É acreditar que ser o provedor, ter poder ou mando, ser o centro, ter um carrão, uma carreira, ou essas coisas que sempre foram ligadas ao homem branco, heterossexual e ocidental há uns cem anos atrás vão levar alguém a plenitude e a felicidade. Essa ilusão como qualquer droga cobra um preço alto, e o mais triste nisso tudo é que homens e mulheres estão desesperados a procura dele.

¹Psicanalista, professor, escritor e diretor da Escola Paulista de Psicanálise-EPP e do Instituto Melanie Klein-IMK. Autor do Livro "A pobreza do Analista e outros trabalhos 1997-2015" e organizador da Coleção Transformações & Invariâncias.

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